sábado, 2 de novembro de 2013

Do erro de Descartes ao insight de Sartre

  • O filósofo do século XVII René Descartes, considerado o fundador da filosofia moderna, deu expressão a esse erro fundamental com sua máxima (que considerou a verdade básica): "Penso, logo existo." Essa foi a resposta que ele encontrou para a pergunta: "Há alguma coisa que eu possa saber com certeza absoluta?" Descartes compreendeu que o fato de estar sempre pensando estava além da dúvida, assim igualou o pensamento ao Ser, isto é: a identidade - o "eu sou" - ao pensamento. Em vez da verdade suprema, ele havia detectado a origem do ego, mas não sabia disso.

  •  Passaram-se quase 300 anos antes que outro renomado filósofo francês visse algo naquela afirmação que Descartes, assim como todo mundo, não havia percebido. Seu nome era Jean-Paul Sartre. Ele refletiu muito sobre a afirmação de Descartes "Penso, logo existo" e, de repente, compreendeu algo. Em suas próprias palavras: "A consciência que afirma 'eu sou' não é a consciência que pensa." O que ele quis dizer com isso? Quando estamos conscientes de que estamos pensando, essa consciência não faz parte do pensamento. É uma dimensão diferente da consciência. E é essa consciência que diz "eu sou". Se não houvesse nada além do pensamento em nós, nem sequer saberíamos que pensamos. Seríamos como alguém que está sonhando e não sabe que está fazendo isso. Estaríamos identificados com cada pensamento assim como aquele que sonha está vinculado a cada imagem no sonho. Muitas pessoas vivem desse jeito, como se andassem nas nuvens, presas a antigos modelos mentais anormais que recriam continuamente a mesma realidade de pesadelo. Quando sabemos que estamos sonhando, é porque estamos despertos no sonho - outra dimensão da consciência se estabeleceu.

  •  A implicação da percepção de Sartre é profunda, mas ele próprio ainda estava identificado demais com o pensamento para reconhecer o pleno significado do que descobrira: uma nova dimensão emergente da consciência.

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