sábado, 2 de novembro de 2013

Em defesa de uma ilusão

  • Vamos considerar os fatos, que são inquestionáveis. Por exemplo, se você disser "A luz se desloca mais rápido do que o som" e alguém afirmar o contrário, é óbvio que você está certo e a pessoa, errada. A simples observação de que o raio precede o trovão confirma isso. Portanto, você não apenas está certo como sabe que tem razão. Será que o ego está envolvido nisso? Talvez, mas não necessariamente. Se você está apenas afirmando algo que sabe estar correto, não há participação do ego, porque não há identificação. Identificação com o quê? Com a mente e com uma posição mental. Porém, essa identificação pode se insinuar com a maior facilidade. Se você se surpreender dizendo "Acredite em mim, eu sei" ou "Por que você nunca acredita em mim?", é porque o ego já se pronunciou. Ele se esconde na palavra "mim". Uma simples afirmação - "A luz é mais rápida do que o som" - , embora verdadeira, agora está a serviço da ilusão, do ego. Ela foi contaminada com um falso sentimento de "eu", tornou-se personalizada, convertida numa posição mental. O "eu" sente-se inferiorizado ou ofendido porque alguém não acredita no que ele disse.

  •  O ego leva tudo para o lado pessoal. Surge a emoção, assim como a atitude defensiva, talvez até a agressão. Estamos defendendo a verdade? Não, a verdade nunca precisa de defesa. Nem a luz nem o som se importam com o que eu, você ou qualquer outra pessoa pense. Estamos protegendo a nós mesmos ou então a ilusão de nós mesmos, o substituto produzido pela mente. Seria ainda mais apropriado dizer que a ilusão está resguardando a si mesma. Se até o terreno simples e direto dos fatos está sujeito à distorção e à ilusão egóica, o que dizer do menos tangível campo das opiniões, pontos de vista e julgamentos, todos eles formas de pensamento que podem facilmente adquirir um sentimento de "eu". 

  •  Todo ego confunde opiniões e pontos de vista com fatos. Além disso, nenhum ego consegue estabelecer a diferença entre um acontecimento e sua reação a ele. O ego é sempre um mestre da percepção seletiva e da interpretação distorcida. Apenas por meio da consciência - e não do pensamento - somos capazes de diferenciar entre fato e opinião. Somente por intermédio da consciência uma pessoa consegue ver o seguinte: esta é a situação e aqui está a raiva que sinto dela. Depois, compreende que existem outras formas de abordar aquela circunstância e maneiras diferentes de entendê-la e de lidar com ela. Só com o uso da consciência conseguimos ver a totalidade da situação ou da pessoa em vez de adotarmos um ponto de vista limitado.

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