sábado, 2 de novembro de 2013

Papéis Temporários

  • Se estivermos despertos o bastante, conscientes o suficiente, para sermos capazes de observar como interagimos com as pessoas, conseguiremos detectar mudanças sutis na nossa fala, na nossa atitude e no nosso comportamento, dependendo do indivíduo com quem estivermos em contato. A princípio, pode ser mais fácil observarmos isso nos outros, porém, depois, também constataremos isso em nós mesmos. A maneira como falamos com o presidente da empresa pode ser sutilmente diferente do modo como nos dirigimos ao faxineiro. A forma como conversamos com uma criança talvez não seja igual à maneira como nos comunicamos com um adulto. Por que isso acontece? Nós interpretamos papéis. Não somos nós mesmos, nem com o presidente, nem com o faxineiro, nem com a criança. Quando entramos numa loja, num restaurante, num banco, num posto do correio, podemos estar nos encaixando em papéis sociais preestabelecidos. Acabamos nos tornando um cliente e falando e agindo como tal. E, nessa condição, seremos atendidos pelo vendedor, pelo garçom ou pelo recepcionista, que também estarão desempenhando um papel. Uma série de padrões condicionados de comportamento entra em ação entre duas pessoas para determinar a natureza da interação. Os elementos que estão interagindo não são os seres humanos, e sim imagens mentais conceituais. Quanto mais identificadas as pessoas estão com seu respectivos papéis, menos autênticos se tornam os relacionamentos. 

  •  Temos uma imagem mental não só de quem a outra pessoa é, mas também de quem nós somos, sobretudo em relação ao indivíduo com quem estamos interagindo. Portanto, não somos nós que estamos nos relacionando com aquela pessoa: quem pensamos que somos é que está se relacionando com quem acreditamos que a outra pessoa é e vice-versa. A imagem conceituai que nossa mente gerou de nós mesmos está se relacionando com sua própria criação, que é a imagem conceituai que ela produziu da outra pessoa. A mente da outra pessoa provavelmente fez a mesma coisa, então cada interação egóica entre dois indivíduos é, na realidade, a interação entre quatro identidades conceituais produzidas pela mente que são, em última análise, fictícias. Portanto, não é de surpreender que haja tanto conflito nos relacionamentos. Não existe nenhuma relação verdadeira.

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