quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O que há de bom e o que há de mau

  • A certa altura da vida, a maioria das pessoas se torna consciente de que não existem apenas nascimento, crescimento, sucesso, boa saúde, prazer e vitórias, mas também perda, fracasso, doença, envelhecimento, decadência, dor e morte. Convencionalmente, esses aspectos são rotulados de "bons" e "maus", ordem e desordem. O "significado" da nossa vida costuma estar associado ao que consideramos "bom", porém tudo o que se enquadra nessa categoria está sob a ameaça constante do colapso, do esgotamento, da desorganização, da falta de significado e do "mau" - que é quando as explicações falham e a vida deixa de fazer sentido. Mais cedo ou mais tarde, a desordem irrompe na vida de todo mundo, não importa quantas apólices de seguro a pessoa tenha. Isso pode acontecer na forma de perda ou acidente, doença, incapacidade, envelhecimento, morte. Contudo, o surgimento dessa desestabilização e o resultante colapso de um sentido definido mentalmente podem se tornar a abertura para uma ordem superior.

  •  "Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus", diz a Bíblia.3 O que é a sabedoria deste mundo? A agitação do pensamento e o sentido que é definido exclusivamente pelo pensamento.

  • O pensamento isola situações ou acontecimentos e os chama de bons ou maus, como se eles tivessem uma existência separada. Por meio da dependência excessiva do pensamento, a realidade se torna fragmentada. Esse fracionamento é uma ilusão, contudo parece muito real enquanto permanecemos presos a ela. O universo, porém, é um todo indivisível onde todas as coisas estão interconectadas, onde nada existe de modo independente. 

  •  A profunda interligação de todos os eventos e de todas as coisas deixa implícito que os rótulos mentais de "bom" e "mau" são, em última análise, ilusórios. Eles sempre pressupõem uma perspectiva limitada e, assim, são verdadeiros apenas temporariamente e de modo relativo. Isso é ilustrado pela história de um homem sensato que ganha um automóvel caro num sorteio. Sua família e seus amigos ficam muito felizes por ele e chegam para comemorar. 

  •  - Não é ótimo? - diz um deles. - Você tem tanta sorte.

  •  O homem sorri e responde: - Pode ser.

  •  Durante algumas semanas ele se diverte dirigindo o carro. Até que um dia um motorista bêbado provoca uma batida num cruzamento e o homem vai parar no hospital, com vários ferimentos. Ao visitá-lo, a família e os amigos comentam:

  •  - Isso foi realmente uma infelicidade.

  •  De novo o homem sorri e diz:

  •  - Pode ser. 

  •  Enquanto ele ainda está no hospital, certa noite ocorre um deslizamento de terra e sua casa é tragada pelo mar. Mais uma vez, os amigos aparecem no dia seguinte e observam: 

  •  - Não foi mesmo uma sorte você ter ficado aqui no hospital?

  •  Novamente ele responde:

  •  - Pode ser. 

  •  O "pode ser" desse personagem sábio significa uma recusa em julgar tudo o que acontece. Em vez de avaliar os eventos, ele os aceita e, dessa maneira, entra em alinhamento consciente com a ordem superior. Esse homem sabe que quase sempre é impossível para a mente entender que lugar ou propósito um acontecimento que parece aleatório ocupa no trançado da totalidade. No entanto, não há eventos casuais, assim como nem as coisas nem os fatos existem por e para si mesmos de modo isolado. Os átomos que constituem nosso corpo foram forjados nas estrelas, enquanto as causas do menor dos eventos são virtualmente infinitas e ligadas ao todo de maneiras incompreensíveis. Se quiséssemos encontrar o motivo de um acontecimento, teríamos que percorrer o caminho de volta até o começo da criação. O cosmo não é caótico. A própria palavra "cosmo" significa ordem. Mas essa não é uma ordem que a mente humana possa chegar a entender, embora consiga ter um vislumbre dela.

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