sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Espaço interior e exterior


  • Nosso corpo interior não é sólido, mas amplo. Ele não é nossa forma física, e sim a vida que a anima. É a inteligência que criou o corpo e o mantém, coordenando ao mesmo tempo centenas de funções diferentes de complexidade tão extraordinária que a mente só consegue compreender uma fração disso. Quando nos tornamos conscientes dele, o que de fato acontece é que a inteligência está se tornando consciente de si mesma.

  •  Os físicos descobriram que a aparente solidez da matéria é uma ilusão criada pelos sentidos. Isso inclui o corpo físico. Nós o percebemos e pensamos sobre ele como uma forma, entretanto 99,99% dele é, na verdade, espaço vazio. Essa é a vastidão do espaço que existe entre os átomos em comparação com seu tamanho. E há também muito espaço dentro de cada átomo. O corpo físico não passa de uma percepção distorcida de quem nós somos. Em diversos aspectos, ele é uma versão microscópica do espaço exterior. Para obter uma idéia da extensão do espaço entre os corpos celestiais, considere o seguinte: viajando a 300 mil quilômetros por segundo, a luz leva pouco mais de um segundo para percorrer a distância entre a Terra e a Lua. A luz do Sol alcança nosso planeta em cerca de oito minutos. A luz de Próxima Centauri, a estrela que está mais perto do Sol e a segunda mais próxima a nós depois dele, viaja por 4,5 anos até chegar à Terra. Essa é a amplidão do espaço que nos rodeia. E também há o espaço intergaláctico, cuja dimensão desafia toda a compreensão. A luz de Andrômeda, a galáxia mais próxima a nós, atinge nosso planeta em 2,4 milhões de anos. Não é incrível que nosso corpo seja exatamente tão vasto quanto o universo?

  •  Assim, o corpo físico, que é forma, revela-se essencialmente sem forma quando mergulhamos fundo nele. Torna-se uma passagem para o espaço interior. Embora o espaço interior seja informe, ele é pleno de vida. Aquele "espaço vazio" é a vida na sua totalidade, a Origem não manifestada da qual fluem todas as manifestações. A palavra usual para designar a Origem é Deus.

  •  Os pensamentos e as palavras pertencem ao mundo da forma; eles não podem expressar a ausência dela. Assim, quando dizemos "Estou conseguindo sentir meu corpo interior", essa é uma falsa percepção criada pelo pensamento. O que ocorre de verdade é que a consciência que aparece como o corpo - a consciência que Eu Sou - está se tornando consciente de si mesma. No momento em que deixamos de confundir quem nós somos com uma forma temporária de "eu", a dimensão do eterno e infinito - Deus - pode se expressar por nosso intermédio e nos guiar. Ela também nos liberta da dependência em relação à forma. No entanto, um reconhecimento apenas intelectual, ou a crença "Não sou esta forma", é inútil. A pergunta fundamental é: sou capaz sentir a presença do espaço interior neste momento? Na realidade, seu sentido é: consigo sentir minha própria presença, a presença que Eu Sou? 

  •  Podemos ainda abordar essa verdade usando um indicador diferente, como a seguinte pergunta: "Tenho consciência não só do que está acontecendo neste momento como também do Agora propriamente dito como o espaço interior eterno em que tudo acontece?" Embora essa indagação pareça não ter nada a ver com o corpo interior, podemos nos surpreender com o fato de que, ao nos tornarmos conscientes do espaço do Agora, de repente nos sentiremos mais vivos por dentro. Estaremos percebendo a energia vital do corpo interior - e ela é uma parte intrínseca da alegria do Ser. Temos que entrar no corpo para ir além dele e descobrir que não somos aquilo.

  •  Sempre que possível, use a consciência do corpo interior para produzir espaço. Durante uma espera, quando estiver ouvindo alguém ou nas ocasiões em que fizer uma pausa para apreciar o céu, uma árvore, uma flor, seus fdhos, seu marido ou sua mulher, sinta a vida dentro de si ao mesmo tempo. Isso significa que parte da sua atenção ou consciência permanece sem forma, enquanto o resto está disponível para o mundo exterior das formas. Toda vez que você "habitar" seu corpo dessa maneira, ele servirá como uma âncora para mantê-lo presente no Agora. Isso o impedirá de se perder no pensamento, nas emoções e nas situações externas. 

  •  Quando pensamos, sentimos, percebemos e vivemos uma experiência, a consciência adquire uma forma. É a reencarnação - num pensamento, num sentimento, num sentido de percepção, numa experiência. O ciclo de renascimentos de que os budistas esperam finalmente se libertar acontece de modo contínuo, e é apenas neste momento - por meio do poder do Agora - que conseguiremos sair dele. Pela total aceitação da forma do Agora, alcançamos um alinhamento interno com o espaço, que é a essência do Agora. Por meio da aceitação, criamos uma vastidão interior. Procuramos nos unificar com o espaço, e não com a forma: é isso o que leva a verdadeira perspectiva e o equilíbrio à nossa vida.

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