domingo, 10 de novembro de 2013

Uma breve história da nossa vida


  • A ida do mundo em direção à sua forma manifestada e seu retorno ao não-manifestado - sua expansão e contração - são dois movimentos universais que podemos chamar de a saída de casa e a volta ao lar. Ambos se refletem em todo o universo de muitas maneiras, como na incessante expansão e contração do coração, assim como nos atos contínuos de inspirar e expirar. Também se revelam nos ciclos do sono e da vigília. Toda noite, sem sabermos, retornamos para a Origem não manifestada de toda a vida quando entramos no estágio do sono profundo, sem sonhos, e depois, revigorados, ressurgimos pela manhã.

  •  Esses dois movimentos, a saída e o retorno, estão também espelhados nos ciclos de vida de cada pessoa. A partir do nada, por assim dizer, "nós" de repente aparecemos neste mundo. O nascimento é seguido da expansão. Esse crescimento não é apenas físico - há também a ampliação do conhecimento, das atividades, dos bens, das experiências. Nossa esfera de influência se alarga e a vida se torna cada vez mais complexa. Esse é o momento em que estamos especialmente preocupados em encontrar ou perseguir nosso propósito exterior. Em geral, há um aumento correspondente do ego, que é a identificação com todas aquelas coisas que mencionei. Com isso, a identidade da nossa forma torna-se cada vez mais definida. Esse é ainda o período em que o propósito exterior - o crescimento - costuma ser usurpado pelo ego, que, ao contrário da natureza, não sabe quando parar na sua busca por expansão e tem um apetite voraz por mais. 

  •  Assim, justamente quando pensamos que conseguimos o que queremos ou que pertencemos a este lugar, o movimento de retorno começa. Talvez as pessoas próximas a nós, as que fazem parte do nosso mundo, comecem a morrer. Nossa forma física se enfraquece, nossa esfera de influência encolhe. Em vez de nos tornarmos mais, passamos a ser menos, e o ego reage a isso com crescente ansiedade ou depressão. E o início do movimento de contração do nosso mundo, e podemos achar que não temos mais o controle sobre ele. Em vez de agirmos sobre a vida, agora é ela que age sobre nós, reduzindo pouco a pouco nosso mundo. A consciência que se identificava com a forma está vivenciando o ocaso, a dissolução da forma. Então, um dia, nós também desaparecemos. Nossa poltrona continua no lugar. Porém, já não nos sentamos mais nela - ali existe somente um espaço vazio. Voltamos para o lugar de onde partimos apenas alguns anos antes. 

  •  A vida de cada pessoa - de cada forma de vida, na verdade -representa um mundo, um modo exclusivo pelo qual o universo sente a si mesmo. E, quando nossa forma se dissolve, um mundo chega ao fim - um dos incontáveis mundos.

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