segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O entusiasmo


  • Enfim, existe outro modo de manifestação criativa que pode ocorrer àqueles que permanecem coerentes com seu propósito interior de despertar. De repente, um dia, eles ficam sabendo qual é seu propósito exterior. Têm uma grande visão, uma meta, e, dali por diante, trabalham no sentido de implementá-la. Em geral, ela costuma estar ligada de alguma maneira a algo que eles apreciam e que já estão realizando numa escala menor. É nesse ponto que entra a terceira modalidade de ação desperta: o entusiasmo.

  •  O entusiasmo mostra que existe um profundo prazer no que fazemos e o elemento adicional de uma meta ou de uma visão em nome da qual trabalhamos. Quando acrescentamos uma meta ao prazer proporcionado por nossa ação, o campo energético ou freqüência vibracional muda. Certo grau do que podemos chamar de tensão estrutural é agora acrescentado ao prazer e, assim, ele se transforma em entusiasmo. No ponto máximo da atividade criativa alimentada por esse sentimento haverá enorme intensidade e energia por trás do que executamos. Vamos nos sentir como uma flecha em direção ao alvo - e sentindo prazer no trajeto. 

  •  Aos olhos de um espectador pode parecer que estamos sob estresse contínuo, porém a intensidade do entusiasmo não tem nada a ver com tensão. Só nos estressamos quando nossa intenção de atingir a meta é maior do que a vontade que temos de fazer o que estamos realizando. Nesse caso, o equilíbrio entre prazer e tensão estrutural se perde, e esta última vence. O estresse costuma ser um sinal de que o ego voltou e, assim, nos privamos da energia criativa do universo. Em seu lugar restam apenas a força e a tensão do desejo egóico. Com isso, precisamos lutar e "trabalhar duro" para alcançar o objetivo. A tensão diminui tanto a qualidade quanto a eficácia do que executamos sob sua influência. Também existe uma forte ligação entre ela e as emoções negativas, como ansiedade e raiva. O estresse é tóxico para o organismo e vem sendo reconhecido como uma das principais causas das chamadas doenças degenerativas, entre as quais o câncer e os males cardíacos.

  •  Ao contrário da tensão, o entusiasmo tem uma elevada freqüência energética e assim vibra em consonância com o poder criativo do universo. É por isso que Ralph Waldo Emerson disse: "Nada grandioso jamais foi alcançado sem entusiasmo:"2 A palavra "entusiasmo" deriva do grego antigo - en e theos, que significa "em Deus". O termo correlato enthousiazein corresponde a "estar possuído por um deus". Com o entusiasmo, descobrimos que não precisamos fazer tudo sozinhos. Na verdade, não existe nada importante que possamos executar sozinhos. O fluir constante do entusiasmo produz uma onda de energia criativa, e tudo o que temos a fazer então é aproveitá-la. 

  •  O entusiasmo confere um imenso poder ao que realizamos, por isso todos aqueles que não buscam o acesso a essa energia poderão olhar para nossas" conquistas com assombro e equipará-las a quem nós somos. No entanto, nós conhecemos a verdade que Jesus ressaltou quando disse: "De mim mesmo não posso fazer coisa alguma."3 Ao contrário do querer egóico, que gera oposição em proporção direta à intensidade do seu desejo, o entusiasmo nunca produz confronto. Sua atividade não cria vencedores nem perdedores. Ele se baseia na inclusão dos outros, e não na sua exclusão. Não precisa usar nem manipular as pessoas, pois é a energia da criação propriamente dita e, assim, não tem necessidade de extrair energia de nenhuma fonte secundária. Enquanto o desejo do ego sempre tenta tirar de alguma coisa ou de alguém, o entusiasmo contribui com sua própria abundância. Quando encontra obstáculos na forma de situações adversas ou de pessoas que não cooperam, ele nunca os ataca. Ao contrário: ou os contorna, ou cede, ou os aceita, convertendo a energia oposta numa energia útil, o inimigo num amigo.

  •  O ego e o entusiasmo não podem coexistir. Um implica a ausência do outro. O entusiasmo sabe para onde está indo, embora, ao mesmo tempo, esteja alinhado com o momento presente, a fonte da sua vitalidade, do seu prazer e do seu poder. Ele não "quer" nada porque não sente falta de nada. Encontra-se num estado de unificação com a vida. E, por mais dinâmicas que sejam as atividades inspiradas por ele, não nos perdemos nelas. Há sempre um espaço silencioso, mas intensamente vivo, no centro da ação, um núcleo de paz em sua essência - ele é a fonte de tudo e, ainda assim, permanece intocado pelo que quer que seja. 

  •  Por intermédio do entusiasmo entramos em completo alinhamento com o princípio criativo que emana do universo, sem, contudo, nos identificarmos com suas criações, isto é, com o ego. Quando não existe identificação, não existe vínculo - uma das maiores causas do sofrimento. Depois da passagem de uma onda de energia criativa, a tensão estrutural diminui novamente, enquanto nosso prazer com o que estamos fazendo permanece. Ninguém pode viver num estado permanente de entusiasmo. Uma nova onda de energia criativa poderá surgir mais tarde e produzir um entusiasmo renovado. 

  •  Quando o movimento de retorno direcionado à dissolução da forma se estabelece, o entusiasmo não nos serve mais, pois ele pertence ao ciclo de crescimento e expansão da vida. É apenas pela resignação que conseguimos nos alinhar com o movimento de retorno - a jornada de volta ao nosso lar.

  •  Resumindo: o prazer com aquilo que realizamos, combinado a uma meta ou visão para a qual trabalhamos, transforma-se em entusiasmo. Embora tenhamos um objetivo, o que estamos fazendo no momento presente tem que permanecer como o ponto focal da nossa atenção. Caso contrário, não estaremos mais em sintonia com o propósito universal.

  •  Não deixe que sua visão ou meta seja uma imagem inflada de si mesmo e, portanto, uma forma disfarçada do ego, como querer tornar-se uma celebridade do cinema ou da televisão, um escritor famoso ou um empreendedor milionário. Procure também se assegurar de que sua meta não esteja concentrada em ter alguma coisa, como uma mansão de frente para o mar, sua própria empresa ou uma fortuna no banco. Uma auto-imagem exacerbada ou uma visão de si mesmo como alguém que tem isso ou aquilo são propósitos estáticos e, portanto, não lhe dão poder. Em vez disso, torne seus objetivos dinâmicos, isto é, voltados para uma atividade em que você esteja envolvido e pela qual se ligue a outros seres humanos, assim como ao todo. Em lugar de se ver como alguém famoso, imagine que seu trabalho está sendo a fonte de inspiração para um grande número de pessoas e enriquecendo a vida delas. Observe como essa atividade aprimora ou aprofunda não apenas sua vida como a de muita gente. Sinta-se como uma abertura pela qual a energia flui da Origem não manifestada para toda a vida em benefício de todos. 

  •  Tudo isso requer que sua meta ou visão já seja uma realidade dentro de você, no nível da mente e do sentimento. O entusiasmo é o poder que transfere o projeto mental para a dimensão material. Esse é o uso criativo da mente, e é por isso que, nesse caso, não há envolvimento do querer. Você não pode manifestar o que quer, só é capaz de expressar o que já tem. Embora possa conseguir o que deseja por meio de muito trabalho e estresse, essa não é a maneira de ser da nova Terra. Jesus nos deu a chave para o uso criativo da mente e para a manifestação consciente da forma quando disse: "Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que tendes recebido, e ser-vos-á dado."4

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